Nearshoring no México: A especialista Blanya Correal fala sobre desafios e oportunidades

A especialista Blanya Correal fala sobre as oportunidades de nearshoring no México, incluindo os principais desafios e benefícios.
Blanya Correal
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Blanya Correal, especialista em recursos humanos, compartilha sua perspectiva sobre a atratividade do México para o nearshoring e os desafios que o país precisa superar nessa área.

Blanya Correal é diretora e consultora especializada em estratégias trabalhistas e recursos humanos, com uma carreira de destaque em empresas multinacionais.

Atualmente, ela ocupa o cargo de Diretora Sênior de Estratégia Trabalhista na De la Vega & Martínez Rojas, uma empresa mexicana especializada em direito trabalhista, onde lidera iniciativas estratégicas para otimizar a gestão de talentos e as relações trabalhistas.

Desde 2021, ela é Sócia Associada Sênior da TAMIM HR Consulting, oferecendo sua experiência em soluções de recursos humanos para várias organizações, e colabora como colunista do El Economista, fornecendo análises e perspectivas sobre tendências e desafios no campo de trabalho e recursos humanos.

Foi isso que discutimos:

1) Conte-nos um pouco sobre o que atraiu você para uma carreira em recursos humanos e sua jornada no setor

Comecei como engenheiro industrial e cheguei ao RH como parte de um programa de treinamento. Quando me deparei com questões de desenvolvimento, com a possibilidade de melhorar as coisas para que as pessoas trabalhassem mais felizes, decidi seguir minha carreira em RH. Estou convencido de que a vocação encontra você.

Passei quase 20 anos trabalhando na Coca Cola FEMSA, onde tive a oportunidade de liderar vários processos em muitos países e aprender sobre a diversidade de culturas. Depois, passei alguns anos na Danone como parte da equipe de RH na região norte da América Latina.

Posteriormente, assumi a responsabilidade pela liderança de RH da operação da Nissan no México, onde, junto com a equipe de gerenciamento, enfrentamos o desafio de iniciar uma transformação cultural. Nós nos divertimos muito fazendo as coisas de forma diferente, em um setor que tem um grande impacto no crescimento econômico do país.

A Nissan também me permitiu inovar em questões trabalhistas. Enfrentamos vários desafios em questões sindicais e lá, junto com Oscar de la Vega, desenvolvemos soluções muito inovadoras.

2) Qual foi o melhor ou mais valioso conselho que você recebeu durante sua carreira?

Entender “para que” fazemos as coisas, buscando realmente o propósito transcendental. Acordo todos os dias pensando em como podemos impactar positivamente a vida das pessoas nas empresas de forma prática.

Desenvolvemos ferramentas muito simples que ajudam nossos clientes a se prepararem para a reforma trabalhista. Estamos realmente interessados em criar uma plataforma que permita que os trabalhadores tenham uma melhor qualidade de vida e melhores condições.

3) Como colunista do El Economista, qual foi o assunto mais relevante que você abordou recentemente em sua coluna e por quê?

No momento, estou explorando o tema do conflito. É natural que, como seres humanos, queiramos evitá-lo; no entanto, o conflito tem características muito interessantes e, administrado de forma saudável, pode se tornar uma ferramenta de aprimoramento.

Isso é especialmente relevante no contexto atual do México, onde, após a reforma trabalhista, estamos enfrentando anos mais agitados, com mais reivindicações coletivas e negociações desafiadoras. A preparação e a educação de ambos os lados serão fundamentais para que o país saia fortalecido.

4) O que você considera ser a principal atração do México para as empresas que desejam implementar o nearshoring?

A localização geográfica é um grande atrativo, mas não é o único fator. Para muitos produtos, o México está classificado entre os cinco maiores mercados, o que impulsionou um grande desenvolvimento industrial, comercial e de infraestrutura no país. Isso também oferece às empresas uma plataforma para o desenvolvimento acelerado dos negócios.

Bandeira do México ilustrando a opinião de Blanya Correal sobre as principais atrações do México para empresas que desejam implementar o nearshoring

Além disso, o México tem trabalhadores altamente qualificados e uma atitude positiva. Entretanto, com o advento do nearshoring, a demanda por mão de obra aumentará. Isso pode criar uma “tempestade perfeita” devido ao baixo treinamento especializado dos jovens e à mudança nas expectativas dos profissionais em relação ao que eles querem das empresas.

De acordo com o Manpower Global Talent Study 2024, no México, a escassez de perfis adequados afeta 68% das empresas, mas em setores como tecnologia da informação (79%), serviços (72%) ou logística (69%), a dificuldade de encontrar talentos com as habilidades certas excede essa média.

Outra vantagem do México em termos de investimento estrangeiro direto, especialmente para empresas que precisam importar matérias-primas ou componentes para montagem, é a estabilidade da taxa de câmbio nos últimos anos. Isso reduz a incerteza para os investidores, permite melhor controle dos custos operacionais e gera maior consistência no fornecimento, pois as empresas podem oferecer preços mais atraentes e constantes para os clientes.

5) Quais são as principais vantagens competitivas do México em termos de custos de mão de obra para negócios internacionais?

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho em seu relatório de 2023, o salário médio por hora no México é de US$ 2,7, enquanto na China chega a US$ 3,3, ou seja, no nível dos custos do salário-base, o México tem uma vantagem significativa.

Por outro lado, embora o México ofereça melhores benefícios para os trabalhadores, em geral a combinação de salários, um custo de vida competitivo e uma taxa de câmbio estável oferecem vantagens para o investimento.

Além disso, o México tem um bônus demográfico muito positivo, com uma grande porcentagem de população jovem e disposta a trabalhar, o que representa para os novos setores a possibilidade de acessar um pool de talentos altamente produtivo, especialmente em setores como manufatura e serviços.

Além disso, a proximidade com os Estados Unidos gerou um fluxo de migração que facilita o acesso a perfis com proficiência em inglês no México.

6) Quais setores da economia mexicana você acha que se beneficiarão mais com o aumento do nearshoring?

O aumento da atividade industrial e comercial no México tem o potencial de beneficiar vários setores econômicos; o primeiro e possivelmente o de maior impacto é o setor de manufatura, que há anos se beneficia da chegada de investimentos estrangeiros diretos, pois se tornou uma importante fonte de emprego em setores como o automotivo, de autopeças, de dispositivos médicos, aeroespacial e de manufatura avançada.

Nessa mesma linha, e dado o aumento da atividade industrial, esperamos um aumento na demanda por serviços de logística, tanto no mercado interno quanto nos mercados internacionais, o que terá um impacto positivo sobre as empresas de transporte, armazenagem e serviços relacionados.

O setor de tecnologia também foi impactado positivamente pelo crescimento do setor de desenvolvimento de software, suporte técnico, gerenciamento de dados e outros serviços de TI, que tiveram uma recuperação graças ao nível de qualificação dos talentos mexicanos.

Por fim, o setor de serviços é outro dos beneficiários desse crescimento. Vemos todos os dias um aumento significativo no número de call centers operando no país, com vários idiomas e com atendimento em vários horários para atender às necessidades globais das empresas que investiram nesse desenvolvimento.

7) Quais são as principais áreas de investimento que o México deve priorizar para capitalizar ainda mais o nearshoring?

Primeiro, o desenvolvimento e a melhoria da infraestrutura abrangente do país. Nesse sentido, é fundamental impulsionar o crescimento dos sistemas de transporte; esse crescimento enfrenta desafios quanto à segurança e à integridade de pessoas e produtos. Da mesma forma, devemos trabalhar na modernização de portos, aeroportos e ferrovias.

Além disso, precisamos preparar o país para acelerar a inovação, para o que é necessário investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e promover a adoção de tecnologias de ponta, como a inteligência artificial.

Em segundo lugar, é necessário continuar investindo na formação de mão de obra, buscando a evolução dos perfis e, principalmente, especializando os trabalhadores nas habilidades, conhecimentos e tecnologias necessárias para o desempenho eficaz nos setores em crescimento.

Um grande desafio é a participação das mulheres em cargos técnicos. O México tem uma população equilibrada em idade ativa, mas a porcentagem de mulheres que ingressam no setor industrial é muito baixa (até mesmo a porcentagem de mulheres que são motivadas pelo treinamento em engenharia, tecnologia ou áreas científicas é baixa). Isso se soma ao fato de que a responsabilidade pelos cuidados com a família ainda recai sobre as mulheres.

Para combater essa lacuna, o México precisa investir em programas de educação técnica, parcerias entre empresas e universidades e programas de treinamento vocacional.

8) Que medidas essenciais você acha que o governo mexicano deveria tomar para incentivar e facilitar o nearshoring no país?

1. Fortalecer os programas de educação e treinamento para garantir o desenvolvimento das habilidades e dos conhecimentos necessários para o crescimento da tecnologia, da fabricação e dos serviços.

2. Gerar uma plataforma fiscal e de custos mais atraente para as empresas que estão investindo no país, além de desenvolver novos esquemas de financiamento e implementar serviços de apoio à localização, incluindo imigração, recrutamento e apoio imobiliário.

3. Investir pesadamente na expansão da infraestrutura de transporte, telecomunicações e tecnologia industrial e promover o projeto de parques industriais inteligentes que integrem tecnologias limpas, energia renovável e práticas de produção ecologicamente corretas.

4. Otimizar a saúde ocupacional e os esquemas de gerenciamento de riscos para melhorar o desempenho dos funcionários e reduzir o absenteísmo.

5. Melhorar a segurança das empresas, dos trabalhadores e dos produtos ou matérias-primas que circulam pela república.

6. Considerar uma distribuição equitativa dos investimentos e benefícios em todo o país, buscando um desenvolvimento econômico e social equilibrado e promovendo a inclusão econômica e social das comunidades.

9) No contexto das atuais tensões geopolíticas, como a que existe entre os Estados Unidos e a China, como você vê o futuro do nearshoring no México?

O México é um parceiro comercial cada vez mais importante para os Estados Unidos. Atualmente, as empresas estão procurando diversificar suas cadeias de suprimentos e reduzir sua dependência da China, o que gerou novas oportunidades para nosso país e espera-se que continue o crescimento do investimento estrangeiro industrial.

Também é importante considerar que o México tem acordos comerciais com o restante da América do Norte, o que facilita o desenvolvimento da atividade de exportação em níveis que seriam difíceis de serem alcançados por outros países, devido ao seu tamanho e localização.

A questão política seria o único fator que poderia afetar essa expansão dos negócios, portanto, as definições que os próximos governos fizerem serão fundamentais, principalmente em questões econômicas, de regulamentação trabalhista e de segurança.

10) Que papel a demografia desempenha na atração de investimentos em nearshoring no México?

A demografia é um fator fundamental nas decisões de investimento das empresas, pois influencia diretamente a disponibilidade de talentos. O México tem uma população jovem, com uma média de idade entre 29 e 30 anos.

Além disso, a maneira como a população está distribuída pela geografia mexicana representa uma vantagem do país, pois oferece vários ambientes, climas, economias ou locais para desenvolver negócios, o que facilita encontrar o local certo e a força de trabalho.

Da mesma forma, o tamanho da população e o poder aquisitivo do México representam, por si só, um mercado atraente para as empresas que se instalam no país.

11) Que impacto o crescimento do nearshoring teve sobre o emprego e o desenvolvimento econômico no México?

Historicamente, temos visto que o investimento estrangeiro tem sido um motor de crescimento no México, prova disso é o desenvolvimento do setor automotivo e de toda a cadeia de suprimentos que apoia a operação das montadoras no país (o que é visto na presença de plantas de produção de quase todas as marcas reconhecidas).

Isso gerou um crescimento considerável na oferta de empregos, o que tem um impacto positivo na economia. De acordo com dados do INEGI, entre 2010 e 2019, estima-se que o setor de manufatura no México gerou mais de 1,5 milhão de empregos adicionais, impulsionados em grande parte pelo nearshoring e pelo investimento estrangeiro direto nesse setor.

Esse crescimento também contribuiu para a diversificação da economia mexicana, de modo que o PIB tem diversos setores além da tradicional dependência do setor de petróleo, oferecendo maior estabilidade econômica e gerando um círculo virtuoso de maior atração de investimento estrangeiro direto.

Blanya Correal falou com Allison Silva.

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